sábado, 28 de novembro de 2009

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sábado, 3 de outubro de 2009

Marcelinha, ouça bem: a partir deste momento até o fim de meus dias (o que não está assim, tããão longe, mas vá lá...), sempre que eu for à praia, vou me lembrar de você. Por que? Seguinte:

Eu conheci a tia Nilza quando tinha 24 anos. Até então, nunca tinha nem pegado num tubinho de filtro solar, e só sabia que cheiro tinha por causa de amigas que encontrava na praia e dava três beijinhos ("que perfuminho bom..."). Em minha tenra idade, achava que era cheiro de mulher boazuda.

Até conhece-la, o mais perto que havia chegado de passar filtro solar era quando passava Hipoglós por causa de queimaduras - o Hipoglós é o filtro solar a posteriori, o filtro solar dos que vão ter de tomar cerveja na sombra amanhã.

Queimaduras de sol, os perigos dos raios UVA e UVB, essas coisas todas eram murmúrios distantes de um mundo de vikings cujo contato com o Sol só se dava três dias por ano.

Depois que conheci a Nilza, muita coisa mudou nesse sentido. Primeiro que, até aquele momento, nunca tinha visto ninguém tão branco, com exceção, é verdade, do Hermeto Pascoal e do Sivuca, mas só pela televisão. Também nunca havia encontrado alguém tão preocupado com a pele. Ela sempre me fazia me lembrar de pardais, que eu costumava observar alinhando as peninhas antes de dormir no alto da goiabeira lá de casa. Cheguei a pensar que ela podia ganhar a vida prestando consultoria nessa área, tipo "Cuide Bem de Sua Pele e, aos Cinquenta Anos, Ostente Uma Cutis de Quinze".

Desde que a conheci, nunca mais me queimei de verdade, nunca mais fiquei tostado de praia do jeito que costumava ficar. Desde então, me queimo só até o meio do caminho, e fico com aquela corzinha meio embaçada, meio indefinida. A única vez em que fiquei com uma cor parecida antes de conhecer a tia Nilza foi uma vez quando, no primeiro dia de férias, saí cedinho pra praia, mas estava tão feliz que tive diarréia quando tava chegando, tive de voltar pra casa correndo e passei o resto do dia sentado na privada - mal sabia eu que, naquela ocasião, ostentei a cor meio esverdeada que seria minha depois dos 24 anos.

Nilza sempre foi meio fissurada por filtros solares. Juro que ela já cogitou de sugerir aos fabricantes filtro solar em comprimido. Aliás, por falar em fabricantes, eles deveriam pagar salário a ela. Nilza procura promoção de filtros solares, e é a única pessoa que eu conheço que já travou contato com o filtro solar fator 80.

Toda vez que eu protestava contra o ritual macabro de ficar me besuntando antes de sair pra Manguinhos, tinha de ouvir discursos sobre a proteção da pele - porra, tenho melanina pra que? Uma coisa que me revolta demais é que, até hoje, me lembro de Morro de São Paulo sempre que sinto cheiro de Sundown - porra de novo! Quequeissóóóó!!! Isso beira a criminalidade! Tinha de sentir saudade de lá quando sentisse cheiro de acarajé, de cerveja, de argentina gostosa! Cara, tô começando a ficar muito puto com a tua tia.

Claro que ela não se contenta em ela usar sozinha. Ela usa, e acha que todo mundo tem de usar também. Quando ela ouviu de papai que ele nem sabia como é que se passa filtro solar, ela disse: "Olha, isso é um perigo! Não tem medo de cancer de pele?", ao que ele respondeu: "Preto tem disso não, minha filha.", e ao que ela treplicou: "As coisas estão mudando no mundo, Jaime...", balançando a cabeça devagar, como quem sabe mais do que pode falar.

Bom, o fato é que: doravante, sempre que a tua tia (ou, por extensão, qualquer outra pessoa que não seja a Madre Tereza de Calcutá) vier me extendendo esses frasquinhos do demônio, vou falar:

ENFIA O FILTRO SOLAR NO RABO!!!